Proposta

Incitada pela pesquisa de mestrado de Maria Alice Pereira da Silva, a criação do primeiro parque brasileiro com nome de um orixá contou com projeto elaborado pela FFA para a FMLF/PMS, que valorizou este monumento singular. O desvio da Av. Assis Valente — ampliando o escopo e a poligonal inicial do Parque e, ao mesmo tempo, criando uma área de amortecimento para o uso sagrado e religioso da pedra — foi a primeira decisão importante para salvaguardar este espaço. O programa do Parque incluiu a implantação de um edifício de apoio e suporte, com um auditório para realização de eventos ligados à cultura afro e às religiões de matriz africana, assim como um memorial das nações do candomblé, ampliando as possibilidade de contato da comunidade do entorno. A recuperação dos eixos naturais de água da área, inserindo-os enquanto elemento paisagístico e sagrado, também foi uma decisão central da proposta.

O Partido Urbanístico adotado desenvolveu-se em três camadas de imersão. A Camada de Vivência coloca-se através de caminhos e espaços de convergência, possibilitando ter uma experiência cotidiana da cultura afro-brasileira. Representada por uma fita que se projeta ora como piso, ora como banco e ora como cobertura, a Camada de Memória serve de suporte para a exposição da memória afro-brasileira e utiliza a pedra, além da água e vegetação, como parte do acervo que conta a história das religiões de matriz africana. A Camada de Intimidade revela-se em trilhas mais estreitas que criam espaços de penetração na mata, onde é possível ter encontros mais sossegados e intimistas com a natureza e o sagrado.

A edificação foi implantada numa posição estratégica para valorizar a paisagem no entorno da pedra. Nela, foram utilizados materiais de baixo impacto ambiental, com destaque para as paredes de taipa de pilão que emolduram o Parque. O uso da taipa representa, ao mesmo tempo, uma das estratégias de arquitetura bioclimática adotadas e um resgate da expressão cultural afro-brasileira, sendo aqui valorizada. É a partir da edificação que se desenvolve a Camada de Memória, a qual se estende pelo parque trazendo informações e histórias da cultura africana e afro-brasileira. Esta construção icônica é complementada por um paisagismo que destacou espécies sagradas pelas religiões de matriz africada em toda a área do Parque, que se harmonizam com a bacia de retenção emoldurando a pedra.

A participação intensa das comunidades das religiões de matriz africana permitiu que o projeto evidenciasse toda a força e o simbolismo que emanam da pedra monumental, como também da terra crua enquanto elemento construtivo e do verde enquanto moldura primordial. Como oportunamente sintetizado por Maria Alice em sua tese, a edificação conforma-se como “Uma arquitetura de reencantamento, sagrada e insurgente”. O Parque Pedra de Xangô foi inaugurado pela PMS em maio de 2022.

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Valorização urbanística e arquitetônica de patrimônio natural e religioso de matriz africana.




Localização

Av. Assis Valente, 1266. Cajazeiras, Salvador – BA


Ano

2018-2019


Área

4,46 ha